O espetáculo dramático da Broadway aclamado com seis estatuetas no Tony Awards, incluindo de melhor musical e melhor trilha, finalmente chegou aos cinemas. O longa era muito esperado pelos amantes de musicais, principalmente pelos fãs da obra, Querido Evan Hansen tem a direção de Stephen Chbosky a partir de um roteiro escrito por Steven Levenson, procurando apresentar a história por meio de cenas simplificadas que optam pela intimidade a fim de se aproximar da experiência profundamente pessoal e emocional dos palcos.

Logo nos primeiros minutos temos nosso contato com Evan Hansen, um adolescente que sofre de ansiedade, tem dificuldade para se comunicar e socializar com os outros, aqui já começamos a nos questionar, o que existe no passado de Evan? O que aconteceu para que ele ficasse assim? Vamos obtendo algumas dessas respostas durante o filme. 

A identificação

A empatia com o personagem pode acontecer já na primeira canção, onde conhecemos mais como Evan se sente, ao cantar “Waving Through a Window”, fica mais próximo o seu estado,  como ele se sente sozinho, como se fosse invisível e que talvez ninguém se importasse com ele. Com o incentivo de sua mãe, Hansen está indo ao psicólogo que o pede para fazer alguns exercícios terapêuticos como escrever cartas encorajadoras para si mesmo sobre o seu dia. O problema começa quando uma das cartas acaba parando nas mãos de Connor Murphy, irmão de Zoe Murphy que é citada na carta.

Imagem: Reprodução/Universal Pictures

Dias depois todos ficam espantados com a notícia que Connor cometeu suicídio e seus pais Cynthia e Larry ​​encontram a carta que ele pegou de Evan, todos começam a pensar que os dois eram melhores amigos. Confrontado com a dor da família de Connor e o tortuoso mal-entendido de que sua carta é na verdade a nota de suicídio de Connor, Evan tece uma história tão elaborada que consegue criar a vida que sempre quis para si. Ele diz aos Murphys que ele e Connor eram secretamente melhores amigos, contando histórias sobre suas aventuras juntos e dando a sua família, incluindo Zoe, irmã de Connor e paixão de Evan, a esperança de que sua vida não fosse tão dolorosa quanto eles temiam. 

Evan começa a participar da família de Connor, tornando-se como um filho substituto dos pais de Connor e namorado de Zoe enquanto eles lidam com sua perda. Ao fazer isso, ele aparentemente preenche o vazio deixado pela partida de seu próprio pai e as frequentes ausências de sua mãe. A mentira leva Evan à fama e popularidade na internet, o que o leva mais fundo em sua ficção e longe de sua própria depressão, porém tudo isso acaba o isolando de si mesmo.

O longa trata de assuntos sensíveis como ansiedade, depressão e suicídio sem uma responsabilidade de doutrinar, mas sim provocar uma reflexão sobre esses temas. Não conhecemos muito sobre Connor, logo após o suicídio vamos contruindo duas imagens dele, a que Evan vai inventando e outra que vai se revelando no relacionameto que ele tinha com a família.

Imagem: Reprodução/Universal Pictures

Para mostrar ambiguidades do caráter humano a trama acaba mostrando a escolha, que mesmo moralmente errada, o personagem vê como uma saída para resolver muitos de seus problemas e conflitos. Claramente que explorar uma tragédia como a de Connor para ganho pessoal é abominável, mas também podemos ver alguns motivos que levaram Hansen a fazer isso.

Fica claro a falta de afetos na vida de Evan por uma família pouco presente e falta de amigos, quando ele mesmo se intitula “melhor amigo” de Connor as atenções se voltam para ele. As mentiras de Evan acabam, de certa forma, reconstruindo cenas do seu passado solitário, como na canção “For forever” que ele reescreve sua história da queda, com Connor ali para ajudá-lo na hora que caiu da árvore, mesmo que na verdade ele tenha ficado caído lá sozinho pois ninguém apareceu. 

Evan não consegue mais parar as mentiras de suas histórias fantasiosas, a narrativa mostra que ele é cada vez mais capaz de tudo para manter seu castelo de areia em pé. Um grande ponto na trama é  Alana Beck uma aluna do colégio que também sofre de ansiedade, muitas vezes utilizando de “máscaras” para não externar o seu problema e resolve dar voz para os anônimos que também passam pelos mesmos problemas. Inclusive Stenberg colaborou com Pasek e Paul em uma nova música para o filme, “The Anonymous Ones”, que é uma canção muito notável.

Trilha Sonora

Imagem: Reprodução/Universal Pictures

Não tem como falar de Querido Evan Hansen e não dar um grande destaque as canções que são o ponto forte do filme, infelizmente faltaram algumas músicas como “Anybody Have a Map?” que abre o musical original. As canções têm uma função muito poderosa: dar voz para os personagens quando eles já não tem mais.  isso fica muito nítido principalmente com Evan que encontra sua voz através das melodias. 

Quero destacar a cena em que Heidi canta a canção “So Big/ So Small” para Evan, é um momento muito emocionante e difícil não chorar ao ouvir esta mãe cantando tudo o que passou e como ela se sente em relação ao filho. 

Imagem: Reprodução/Universal Pictures

A escalação

Ben Pratt, de 27 anos, como Hansen, foi muito questionada e criticada, o que de primeiro momento parece uma ideia que o difícil de ser comprada é uma ideia que funciona para os fãs do musical. Ben originou o papel na broadway, ganhou Tony Award e muitos elogios, o papel está em seu DNA e vimos isso ao transmitir a vulnerabilidade, ansiedade e desejo de aceitação do personagem.

Se falarmos de disparidades de idade, então devemos mencionar John Travolta, Olivia Newton-John e Stockard Channing como alunos do ensino médio em “Grease”, e poderíamos fazer uma longa lista de exemplos, isso acontece e em “Querido Evan Hansen”, tem um porquê.

No quesito atuação os grandes destaques vão para Julianne Moore e Amy Adams, interpretando mães angustiadas.

Ficha Técnica

Data de lançamento: 11 de novembro de 2021 (Brasil)

DiretorStephen Chbosky

Adaptação deDear Evan Hansen

Produção: Marc PlattAdam Siegel

Música composta por: Pasek and PaulJustin PaulBenj PasekDan Romer