A primeira temporada de Muito Esforçado (Overcompensating) chegou ao fim entregando um episódio tenso, emocional e revelador, exatamente o que se esperava de uma série que, desde o início, propôs um retrato honesto sobre identidade, pertencimento e os conflitos de crescer sem saber onde se encaixar.

Criada e protagonizada por Benito Skinner, a produção do Prime Video conquistou destaque por unir humor ácido e drama íntimo em um formato moderno, voltado para a geração que ainda tenta entender quem é. Além da criação, Skinner brilha no papel principal como Benny, um ex-jogador de futebol americano tentando se adaptar à universidade enquanto esconde sua sexualidade.

O elenco conta também com Clara Mamet, em uma atuação afiada como Carmen, a melhor amiga com quem Benny mantém uma relação tão íntima quanto instável, e que acaba sendo peça-chave para a explosão emocional do episódio final.

A verdade vem à tona

No episódio final, Benny se depara com uma cena que muda tudo: Carmen, sua amiga mais próxima, está beijando Miles, o garoto por quem ele nutre sentimentos secretos. A partir dessa descoberta, a tensão acumulada ao longo da temporada chega ao limite. A discussão que se segue não é apenas sobre ciúmes ou deslealdade — ela escancara frustrações reprimidas, inseguranças mal resolvidas e, por fim, um segredo que Benny ainda não estava pronto para contar.

Imagem da série Muito Esforçado
Cena do episódio final da série Muito Esforçado (foto: Reprodução/Prime Video)

Durante a briga, Carmen solta — quase sem perceber — uma fala que expõe a sexualidade de Benny diante de sua irmã Grace e do próprio Miles. Não há tempo para defesa, nem controle sobre o momento. Para Benny, o medo não é apenas o da rejeição, mas o da perda de autonomia sobre sua própria narrativa. O público assiste a um personagem sendo arrancado da zona de silêncio em que se refugiava.

As consequências do silêncio

O impacto da revelação se espalha rapidamente. Benny se isola, tomado pela vergonha e pelo sentimento de traição. A série, no entanto, não transforma esse momento em espetáculo. Ela desacelera, mergulha no silêncio do personagem e dá espaço para que a dor se manifeste sem artifícios. O reencontro com a irmã traz um breve alívio, pois ela se mostra compreensiva — um gesto simples, mas significativo. Já com Carmen, a relação é deixada em suspensão: há um pedido de desculpas, mas nenhuma certeza de que a confiança poderá ser restaurada.

Um desfecho realista e corajoso

Diferente de muitos dramas adolescentes que buscam fechar arcos com finais reconfortantes, Overcompensating escolhe a verdade. E a verdade, às vezes, é desconfortável. A jornada de Benny continua aberta. No plano final, ele caminha sozinho pelo campus, ainda sem saber ao certo o que virá a seguir. Mas pela primeira vez, não parece mais disposto a esconder quem é.

A temporada termina com o gosto agridoce de algo que ainda não está totalmente resolvido — e é justamente por isso que funciona. O público não recebe respostas fáceis, mas sim uma conclusão coerente com o que a série construiu: um retrato honesto, contemporâneo e sensível sobre autodescoberta.

Se confirmada, uma segunda temporada poderá explorar com mais profundidade as consequências dessa exposição precoce, os desdobramentos nos relacionamentos de Benny e sua reconstrução como alguém que finalmente escolhe ser visto. Por enquanto, a série cumpre com mérito sua proposta inicial: provocar, emocionar e, acima de tudo, acolher.