Nos últimos anos os super-heróis dominaram as telas do cinema e praticamente ganharam um gênero próprio, e mesmo que a melhor fase desse período pareça ter passado, é reconfortante ver um filme que não tenta ser aquilo que não é, e entrega doses de ação e humor na medida certa em uma aventura perfeita para se assistir em família, esse é o caso de “Shazam! Fúria dos Deuses”.

David F. Sandberg (Annabelle 2: A Criação do Mal) retorna ao cargo de diretor com a tranquilidade de poder desenvolver esses personagens sem precisar introduzi-los mais uma vez ao público. Enquanto o roteiro é ágil em nos situar sobre os eventos entre os dois filmes, os novos dilemas dos personagens principais, e as motivações dos novos vilões, a direção de Sandberg é primorosa em manter o nível da película, não sendo repetitivo, e mantendo o ritmo que deu tão certo anteriormente, além do roteiro de Henry Gayden (Terra Para Echo) e Chris Morgan (Velozes e Furiosos 8), que possui bons diálogos, ação e humor condensados de forma coesa, além de trazer importantes reflexões sem parecer piegas.
O elenco também retorna em sua melhor forma. Zachary Levi (Chuck) sabe como dosar a ingenuidade e os pensamentos do jovem Billy Batson, mas é Asher Angel (Andi Mack) que realmente mostra o quanto evoluiu como ator, se mostrando um nome promissor para o futuro de Hollywood. E embora a equipe de heróis não tenha um espaço maior para brilhar (como se esperava), alguns realmente se destacam. O amadurecimento de Grace Caroline Currey (A Queda) como atriz é mais que visível, e isso reflete em sua personagem. Jack Dylan Grazer (It: A Coisa) está mais confiante, tornando o personagem Freddy ainda mais envolvente, e Adam Brody (The O.C.) também contribui para isso. Meagan Good (Harlem) é precisa em demonstrar a inocência da pequena Darla, Jovan Armand (The Middle) resplandece ao dar uma importante nova dimensão para Pedro, Djimon Hounsou (Guardiões da Galáxia) mostra uma veia cômica que poucos sabiam que ele tem. E enquanto Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor) e Helen Mirren (A Rainha) brilham, é Lucy Liu (As Panteras) que assume o posto de grande vilã e rouba totalmente a cena.

A fotografia é belíssima, aproveitando o melhor das locações na Philadelphia, que orna perfeitamente com os elementos da mitologia grega, incluindo criaturas e cenários impecáveis. Apesar disso, alguns efeitos especiais poderiam ter sido mais lapidados, principalmente na cena de abertura. O CGI de algumas cenas específicas sofre do mesmo mal, mas nada que prejudique nossa imersão. Os monstros e criaturas definitivamente receberam uma atenção maior, e o resultado é excepcional, o mesmo pode ser dito sobre maquiagem e figurino.

E enquanto a trilha de Christophe Beck (WandaVision) não reinventa a roda, as faixas cumprem exatamente aquilo que se espera de um filme de super-herói, nos proporcionando ritmos de grande impacto, e que complementam muito bem a ação e a aventura.
O filme também é recheado de referências e easter-eggs que abrangem todo o universo estendido da DC Comics, incluindo menções a outros heróis, sem falar em uma participação especial de um dos maiores nomes da franquia. Mas não é apenas o campo da DC que é referenciado, sendo que outros trabalhos de Sandberg, e grandes propriedades da cultura pop também são citados.

A produção ainda possui duas interessantes cenas pós-créditos, e mesmo que o futuro da DC Comics no cinema esteja cercado de incertezas, com as novas decisões dentro da Warner, isso não tira o brilho e os acertos que essa sequência traz, repetindo os méritos do primeiro filme, e transportando esses personagens para um nível mais alto, onde certamente ainda poderiam nos render histórias interessantes sobre família e amadurecimento, algo que outros heróis (não importa a editora) não conseguem fazer de um modo tão cativante e animador.