O clássico ‘Jovens Bruxas’ não é mais tão jovem assim, já que foi lançado 24 anos atrás, apesar do tempo, as protagonistas Sarah, Nancy, Bonnie e Rochelle parecem ter conjurado um feitiço que manteve o filme vivo no coração de seus fãs, além de conquistar novos seguidores, e assim recebendo um status ‘cult’. Hollywood, fazendo aquilo que sempre faz, não poderia deixar de capitalizar tamanho sucesso. Rumores sobre uma possível sequência vem desde o início dos anos 2000, onde o estúdio considerou produzir um filme diretamente para o mercado de home-video. Tais planos foram cancelados até que a ideia começou a tomar forma novamente dentro dos estúdios da Sony/Columbia Pictures e foi oficialmente anunciado no ano passado, sob produção da Blumhouse (Corra, Halloween).
E assim chega ‘Jovens Bruxas: Nova Irmandade’, aproveitando do método de outras franquias como ‘Jurassic Word’ e ‘As Panteras’ onde um novo grupo de personagens é apresentado, mas os eventos do filme original continuam fazendo parte da cronologia. A jovem atriz/roteirista/diretora Zoe Lister-Jones (New Girl) é fã confessa do filme de 1996 e assume o roteiro e direção desse reboot/sequência. Apesar do texto respeitar o material de origem e atualizar a franquia para uma nova geração, que enfrenta questões que não estavam em pauta durante os anos 90, também peca em não respeitar a mitologia por trás da magia ou da religião Wicca, algo feito com maestria no primeiro filme. Além disso, o filme possui pouca ligação com os personagens e eventos do filme original, mas vai soltando pequenas dicas que os fãs mais atentos vão conectar rapidamente e talvez já descobrir uma das melhores surpresas que o filme tem a oferecer.
O elenco é relativamente novo, e pouco conhecido, mas apresentam atuações convincentes, além de possuírem uma boa química em tela. A nova irmandade é formada por Lily (Cailee Spaeny, Maus Momentos no Hotel Royale), Lourdes (Zoey Luna, Pose), Tabby (Lovie Simone, Greenleaf), e Frankie (Gideon Adlon, The Society). Enquanto Timmy (Nicholas Galitzine, Chambers) é o típico valentão, porém bonito, que não pode ficar de fora de um filme focado em adolescentes. Os maiores nomes do elenco são Michelle Monaghan (Missão: Impossível – Efeito Fallout) e David Duchovny (Arquivo X). Ambos possuem um bom tempo em tela, e certa relevância para a história, mas estão ali apenas pelo “núcleo dos pais”.
O filme se desenrola com Lily sendo nova na cidade e começando em uma nova escola (clara alusão à personagem Sarah no filme original), e logo percebe-se que a “novata” recebe um foco maior no roteiro, desperdiçando o potencial das outras três. Lembrando que no primeiro filme cada garota tinha seu próprio propósito para utilizar magia e alcançar certos objetivos ou sonhos, enquanto aqui pouco descobrimos sobre o background de Tabby, Frankie ou Lourdes. O roteiro perde a chance de abordar as questões de Lourdes como mulher transexual (ponto para o filme que escalou uma atriz trans para o papel), ou os desafios que a comunidade enfrenta na sociedade, e ainda falha ao abordar a bissexualidade de um personagem fora do grupo de protagonistas. É preciso aplaudir Zoe Lister-Jones por incluir esses temas, já que fazem parte da nossa realidade e amplia a diversidade LGBTQIA+ em filmes do gênero, mas tudo poderia ter sido feito com um pouco mais de inspiração.
A fotografia do filme se destaca, focando a maior parte em locações e aproveitando o melhor do outono em Toronto, embora não fuja dos clichês em se inspirar em cidades como Nova Inglaterra ou Salem, que já serviram de palco para outros filmes e lendas sobre bruxas. A trilha-sonora também é um dos pontos altos apostando em músicas indie, rock alternativo, e um toque de folk. Como nem tudo são flores… os efeitos especiais do filme são o pior aspecto da produção que certamente merecia um orçamento maior para finalizar os efeitos ou aprimorar o resultado visto em tela.
Por esses aspectos, entende-se que ‘Jovens Bruxas: Nova Irmandade’ possui o “coração” no lugar certo, e é uma boa extensão ao universo que muitos já conheciam e amavam, mas faltou um pouco mais de esforço e compressão sobre os elementos que fizeram o filme original se tornar um clássico cult. A diretora já afirmou em entrevistas que escreveu o roteiro já imaginando um possível terceiro filme, as últimas cenas certamente mostram isso e abrem portas para vários caminhos que a franquia pode tomar. Resta saber se o estúdio irá continuar apostando na franquia e se o público irá abraçar essas novas ideias.