Do rap ao samba a música popular brasileira: acaba de chegar na Netflix Brasil o filme documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem, do rapper Emicida. Dirigido por Fred Ouro Preto, o longa narra a história de Leandro Roque de Oliveira (Emicida), nos bastidores de um dos shows mais importantes de sua carreira.
Muito mais do que a sinopse descrita pelo próprio streaming, o filme conta mais que o ‘por trás das câmeras’ do show realizado no Theatro Municipal de São Paulo no dia 27 de novembro, ele retrata todas as dificuldades e situações de racismo que todos os negros sofreram e que foram apagadas dos livros de história nos últimos 100 anos.
Uma verdadeira aula sobre a cultura negra, a produção aborda a importância do preto ocupar todos os ambientes que foram negados a eles dentro deste país. E como o Theatro Municipal de São Paulo foi um destes lugares, ganhou um peso diferente e outro tom de relevância na vida de Emicida e todos os fãs, principalmente os pretos. O artista até conseguiu trazer membros do Movimento Negro Unificado (MNU), que nas escadarias desse mesmo espaço protestaram contra o preconceito durante a ditadura em 1978, o que rendeu momentos emocionantes que também podem ser vistos no filme.

De forma concisa e cuidadosa, não será uma surpresa se AmarElo – É Tudo Pra Ontem se tornar uma referência que poderá ser usada como material de estudo daqui em diante. Além de trazer base histórica, o conteúdo informa e emociona não apenas os fãs do rapper, mas a todos que derem play ao filme.
Com realização da Laboratório Fantasma, produção de Evandro Fióti, AmarElo – É Tudo Pra Ontem também traz entrevistas exclusivas com relevantes personalidades brasileiras, como Fernanda Montenegro, Zeca Pagodinho e Pabllo Vittar. A narrativa é costurada ainda por cenas de bastidores, imagens de arquivo e animações que contribuem para um entendimento ainda mais fácil para o espectador.
“Foram as histórias dos livros e dos filmes que me fizeram sonhar com outra possibilidade de ser, viver e existir”, diz Emicida. “A ideia do documentário é a de colocar as pessoas em contato com uma história que as façam se perguntar: se já houve neste país tanta grandiosidade, por que essas histórias vão sendo, de alguma maneira, invisibilizadas e esquecidas? Estou feliz que vamos conseguir apresentar em escala global outra perspectiva a respeito do Brasil. Isso é mágico”, explicou, sobre a ideia executada no formato audiovisual.

100% narrada pelo próprio artista, AmarElo – É Tudo Pra Ontem aborda a carreira do rapper e seus sonhos até chegar em seu último trabalho, o ‘AmarElo‘. Com o propósito de valorizar o Brasil e mostrar o significado do É Tudo Para Ontem com importantes referências negras e relatos de acontecimentos, o filme dá nomes a diversos negros ligados à política, cultura e arte que contribuíram com o nosso país.
Durante um bate-papo após a pré-estreia virtual, Emicida comentou sobre a importância do longa estar disponível em um gigante de streaming como a Netflix, que distribui conteúdo para 190 países, principalmente em um ano tão importante em que o consumo da cultura ganhou ainda mais importância durante essa pandemia.
“Penso que a gente tem a honra de estar vivo neste tempo e dar continuidade a grandiosidade dessas pessoas. Essa é a coisa que o filme mais me fala. Colocamos no centro de reflexão do ‘AmarElo’ que através do encontro a gente consegue produzir muita coisa maravilhosa, principalmente em um ano tão difícil, fazer um filme que traz essa energia. Fomos muito honestos e felizes na seleção do trabalho de pesquisa. É um trabalho de time”, contou.
Ainda durante o bate-papo, Evandro, o Fióti, comentou que um dos maiores desafios da criação do filme foi realizá-lo via Zoom e Hangout, por conta da pandemia. E falando nela, o filme também conta dos impactos na carreira do rapper como cancelamento de shows e como o preto vira estatística em um país onde as pessoas pobres e de classe baixa são as mais contaminadas pela Covid-19.
“Quando eu cheguei aqui, tudo era impossível, qualquer coisa que falávamos era tida como problemática e improvável de se realizar. Hoje, não é mais. E é dessa forma que quero que lembrem do meu nome no futuro, como alguém que sabia que o impossível era grande, mas não maior que si. O palco do Municipal abrigou alguns dos mais importantes movimentos da arte do planeta e acho que caminhamos para ser isso“, completou.

Não é a toa que o rapper se tornou um dos principais artistas do país. Com o lançamento do ‘AmarElo‘ e agora com o documentário, os livros de história não são só discos, tem filme na Netflix também, como diz o próprio. Então corre pro play.
Ouça o álbum AmarElo:
AmarElo – É Tudo Pra Ontem possui duração de 90 minutos e foi produzida por Evandro Fióti e realizada pela Laboratório Fantasma. O filme já está disponível na Netflix Brasil. Confira o trailer: