Após um primeiro filme controverso lançado em 2016, a famosa equipe formada por vilões está de volta em O Esquadrão Suicida, que serve tanto como uma sequência como um reboot para o anterior. Escrito e dirigido por James Gunn, já consagrado no gênero dos super-heróis pelo seu trabalho na franquia Guardiões da Galáxia, o longa traz elementos que deram certo no primeiro filme como os personagens Arlequina (Margot Robbie), Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman), Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e Amanda Waller (Viola Davis), e a grande violência presente nas cenas de ação, mas tomando o cuidado de melhora-los.
A regra principal da obra é: não se apegue a nenhum personagem. Como Gunn já havia dito enquanto o promovia, e como o título já sugere, nenhum personagem está a salvo da morte. Preparem-se para a imprevisibilidade do roteiro e da sensação que durante o filme qualquer um pode morrer. E de forma bem violenta. O Esquadrão Suicida não economiza no sangue durante as cenas de ação que são incrivelmente bem executadas.

A trama começa sem muitos rodeios, somos logo apresentados aos vilões que irão integrar a missão. Chama a atenção as características dos personagens que possuem poderes de certa forma ridículos e que se mostram até descartáveis, principalmente aos olhos de quem lidera a missão, a agente Waller. Como já mostrado no filme anterior, a sobrevivência dos membros da equipe não é uma prioridade para a agente provavelmente por se tratarem de criminosos. Durante a trama o desprezo pela vida alheia se torna um traço grande demais da personalidade da personagem se tornando difícil de ignorar, trazendo um debate sobre o que realmente é o certo e o errado e até sobre política.
A missão da equipe, além de sobreviver, é invadir a ilha de Corto Maltese, que acaba de sofrer um golpe de Estado e abriga um projeto liderado pelo Pensador (Peter Capaldi). Além dos perigos óbvios que a invasão a ilha proporciona, os companheiros de equipe não confiam uns nos outros e se desertarem acabam mortos pela explosão do dispositivo que tem cabeça.
Os personagens, novos e antigos, possuem destaque durante toda a trama, cada um com seu momento de glória, oportunidade de demonstrar sua personalidade e falar um pouco sobre sua história. Um dos personagens que tem bastante destaque é o Sanguinário (Idris Elba), considerado por muitos como o protagonista do filme, ele é o líder da equipe. Com toda a carisma de Elba transbordando em cada cena, é difícil não gostar do Sanguinário mesmo ele sendo um mercenário que colocou o Superman na UTI. Um elemento divertido do criminoso é a rivalidade dele com o Pacificador (John Cena), fruto do fato dos dois terem praticamente as mesmas habilidades e história de origem.

Um dos personagens que fez muito sucesso durante o lançamento dos trailers foi o Tubarão-Rei (Sylvester Stallone), no filme ele não desaponta e é um dos grandes alívios cômicos. Por sua natureza ingênua é impossível não se apegar a Nanaue e não o achar fofo, mesmo que ele passe a maioria do filme devorando pessoas vivas. O Bolinha (David Dastmalchian) também recebeu bastante atenção por causa dos seus poderes estranhos: o criminoso pode lançar bolinhas coloridas contra as pessoas. No mínimo excêntrico colocar alguém com esse tipo de poder para ter tanto destaque em um filme como O Esquadrão Suicida, mas funciona. A ótima atuação do ator e o imenso complexo de Édipo que o personagem possui faz com que ele seja cômico, mesmo que de uma forma um pouco triste.
O coração do longa é com certeza a Caça Ratos 2 (Daniela Melchior), a criminosa que possui uma espécie de máquina capaz de fazer com que ela se comunique com ratos, é no filme a filha do vilão original, sendo uma versão totalmente nova do personagem. Servindo quase como uma bússola moral para o resto da equipe, ela conquista o coração do espectador e dos outros membros do time junto com o rato dela, Sebastian.
Não dá falar sobre Esquadrão Suicida sem falar sobre Arlequina. Já em seu terceiro filme com a personagem, Margot Robbie mostra o que é a melhor versão até agora da anti-heroína. A junção da personalidade caótica e louca dela com o figurino vermelho e preto, que é o que mais se assemelha as versões clássicas da personagem, e a melhor sequência de ação do filme, produzem uma explosão de beleza e insanidade na medida certa. E falando sobre outro personagem do antigo filme que retorna para esse, o Coronel Rick Flag se mostra em perfeita harmonia com os membros criminosos de sua equipe. A amizade de Flag com vários dos integrantes do time mostra uma humanidade que é impossível de se ver na agente Waller.

O antagonismo da trama fica por conta dos militares responsáveis pelo golpe de Estado em Corto Maltese e de Starro, um enorme alienígena capaz de dominar a mente de milhões de pessoas de uma só vez. Além da agente Waller que é a maior ameaça a vida dos integrantes da equipe.
O Esquadrão Suicida é um filme do gênero de super-heróis que pode ser considerado uma total junção entre Marvel e DC nos cinemas. Não pelos personagens, é claro, mas pelo diretor James Gunn. Ele trouxe a Marvel com sua fórmula que sabe agradar os fãs, sabe como criar figuras que são carismáticos e envolventes, assim como suas histórias. E trouxe a DC com os personagens e com as grandes cenas de ação, livres das amarras da classificação livre, de forma que é permitido falar palavrão e ter sangue a vontade nas cenas de violência. O Esquadrão Suicida é tudo o que esperávamos de Esquadrão Suicida, e mais.
Apesar do filme não deixar muitas amarras para projetos futuros, já sabemos que Gunn escreveu uma série para o Pacificador, personagem de John Cena, que deve estrear em breve no serviço de streaming HBO Max. E se for um terço parecido com esse filme, vai ser incrível.