No ano passado, a franquia “Pânico” retornou aos cinemas após uma década de descanso e com uma nova equipe criativa, a expectativa dos fãs era alta, e o quinto filme soube balancear a nostalgia e novas regras, se tornando um grande sucesso entre público e crítica, e tal sucesso se refletiu nas bilheterias. Com isso, não demorou para que o estúdio logo aprovasse uma sequência, e por mais que os fãs tenham comemorado, sempre existe um medo por trás, ainda mais quando o tempo entre uma produção e outra é tão pequeno, assim como a ausência de Neve Campbell como a heroína Sidney Prescott nesse novo capítulo, que também trouxe um grande sinal de alerta. Felizmente o sexto filme da amada franquia do terror se mostra mais corajosa, mais sangrenta, além de renovar elementos clássicos do gênero. Os fãs mais devotos podem ficar tranquilos.

Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (Casamento Sangrento) retornam como diretores, em um roteiro mais uma vez assinado por Guy Busick (Castle Rock) e James Vanderbilt (O Espetacular Homem-Aranha). Enquanto o filme anterior manteve os pés no chão, e ainda homenageou o trabalho e o legado de Wes Craven, dessa vez Olpin e Gillet realmente colocam a assinatura de ambos nessa nova investida, mas sem perder o respeito por tudo que veio antes. A dupla já começa inovando na cena de abertura, além de outros twists durante o longa, como a máscara desgastada, além de não economizarem nas referências e easter eggs a todos os filmes anteriores.

A conversão para o 3D também foi algo que pegou todos de surpresa. Mas o formato realmente beneficia o filme. Não temos sangue simplesmente jorrando na tela, mas a profundidade que o formato proporciona realmente nos traz outro tipo de experiência.

Dessa vez, a ação é realocada da pequena cidade de Woodsboro para as ruas de Nova York. Essa decisão também foi recebida com cautela pelo público, mas levar a ação para uma grande metrópole se mostrou muito acertada. Embora o terceiro filme tenha se passado em Hollywood, a cidade dos anjos nunca foi aproveitada da mesma forma que esse novo filme transforma a “big apple” em um dos personagens do filme. Ghostface podendo aparecer em ruas escuras de Manhattan, no metrô, em mercearias, ou em pequenos apartamentos, levam a tensão para um nível não visto antes na franquia. E apesar do filme ter sido filmado em Montreal, nunca uma NY falsa pareceu tão real. O metrô, o Central Park, o campus da Universidade Blackmore, que lembra muitos as universidades de Columbia e NYU, tudo foi pensado nos mínimos detalhes, fazendo da fotografia do filme um verdadeiro primor, ainda mais considerando que um dos fatores mais criticados no filme anterior foi justamente a fotografia, já que as locações de Wilmington pouco lembravam as locações utilizadas para a fictícia Woodsboro nos filmes originais.

As novas regras também são um grande trunfo, já que agora não se limitam apenas ao gênero do terror, mas abraçam a cultura pop como um todo. Referências à clássicos como “Halloween”, “Sexta-Feira 13”, “A Hora do Pesadelo”, e “O Massacre da Serra Elétrica” ainda estão presentes, mas “Star Wars” e “Vingadores” também entram na equação, afinal de contas, com os próprios personagens dizem, eles não estão só em mais um filme, eles são parte de uma franquia, e tudo isso é utilizado para satirizar certas fórmulas de Hollywood de uma forma que apenas a franquia Pânico é capaz de fazer de forma plausível. A motivação do novo assassino (ou assassinos?) também faz uma grande crítica a problemas que a nossa sociedade enfrenta hoje em dia. Enquanto o filme anterior criticava como um fandom pode ser tóxico, aqui as fake news se mostram tão perigosas quanto a faca do assassino mascarado, além de outros fatores que criam uma interessante ligação com um dos quatro primeiros filmes.

O elenco também retorna em sua melhor forma. O “core-four” formado por Sam Carpenter (Melissa Barrera; Em um Bairro de Nova York), Tara Carpenter (Jenna Ortega; Wandinha), Mindy Meeks-Martin (Jasmin Savoy Brown; Yellowjackets) e Chad Meeks-Martin (Mason Gooding; Love, Victor) retorna com uma química ainda maior, graças a forte amizade que todos fizeram durante os bastidores. O carinho dos quatro é palpável em tela, e só enriquece a trama. Entre o quarteto, Barrera apresenta a maior evolução, e mostra que pode carregar o título de “final girl” com tranquilidade. Mas a química não se limita apenas a nova geração, já que as personagens clássicas Gale Weathers (Courteney Cox, Friends) e Kirby Reed (Hayden Panettiere, Nashville), retornam e ambas possuem uma grande importância no roteiro e não estão ali apenas como participações de luxo, e a química das duas com os novatos também se mostra positiva. Inclusive, Gale protagoniza uma das melhores e mais tensas cenas de perseguição, enquanto o retorno de Kirby é simples e eficaz, rende um ótimo diálogo com Mindy, e um grande destaque no terceiro ato. E embora Sidney Prescott faça uma grande falta, sua ausência é explicada rapidamente, e o motivo é algo totalmente plausível.

Os novos personagens também beneficiam o roteiro. Embora a maioria esteja ali como novas vítimas e/ou novos suspeitos, poucas linhas de diálogo nos revelam muito sobre a personalidade de cada um, nos rendendo boas risadas, além de fazer o público se importar com eles, mesmo que cada um deles seja esfaqueado na cena seguinte. Destaque para Jack Champion (Avatar: O Caminho da Água), Josh Segarra (Arrow), Liana Liberato (A Million Little Things), e Samara Weaving (Nine Perfect Strangers).

O filme também ganha pontos pela excelente trilha-sonora. O compositor Brian Tyler (Velozes e Furiosos) apresenta faixas com uma forte presença, o que beneficia cenas de perseguição, além de outras de puro terror e ação. Tyler ainda reutiliza algumas faixas icônicas de Marco Beltrami, compositor dos quatro primeiros filmes, algo que certamente deve arrancar um sorriso dos fãs com ouvido mais apurado, assim como “Red Right Hand”, que já se tornou o grande hino da saga e não pode ficar de fora.

No geral, Pânico VI se mostra mais um grande acerto e um capítulo mais que bem-vindo à franquia, algo raro no gênero slasher, ainda mais pensando que já estamos no sexto filme. Mas se antes alguns ainda mantinham uma certa desconfiança ao retorno de Ghostface às telas do cinema, os novos realizadores definitivamente provaram que o legado de Wes Craven e Kevin Williamson está em boas mãos, e que esse universo ainda possui muito gás para um futuro muito promissor.

Pânico VI

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