Vinte e cinco anos atrás um filme recebeu o rótulo de D.O.A. (expressão americana que significa morto antes de chegar) pela revista Variety. Apesar do roteiro ter sido escrito por um iniciante, a direção ficou à cargo de um mestre do gênero. No fim, esse filme não só reinventou o subgênero slasher, como ficou em cartaz nos cinemas por oito meses, e permaneceu anos como o filme de terror de maior bilheteria da história. Sim, estamos falando de Pânico (1996). Agora um novo grupo de cineastas nos traz de volta para esse universo, mais uma vez brincando com o gênero, e honrando o passado. Uma tarefa difícil, mas não impossível, e aqui… Feita com maestria e muito respeito.
Há dez anos Pânico 4 nos levou de volta à Woodsboro em uma trama um pouco à frente de seu tempo, mostrando como as redes sociais e a fama instantânea teriam seu impacto na sociedade, ao mesmo tempo que criticava a onda de remakes em Hollywood, principalmente no âmbito do terror, enquanto franquias como “Jogos Mortais” e “Atividade Paranormal” lançavam uma nova sequência a cada ano. Muita coisa mudou de lá para cá, franquias como “Invocação do Mal” e as novas adaptações de “IT, a coisa” caíram no gosto do grande público, enquanto a Blumhouse subverteu o gênero com “Uma Noite de Crime”, “Corra”, “A Morte Te Dá Parabéns” e “Freaky”, além de “Halloween” que soube revitalizar uma das maiores franquias do gênero, passando por “Doutor Sono” que voltou ao universo de um dos maiores clássicos, que muitos consideram intocável. E outros ícones do terror também retornaram com louvor, incluindo Candyman e Chucky. Mas o gênero não se apoiou apenas em personagens conhecidos e símbolos da cultura pop, com terrores como “A Bruxa”, “Midsommar” e “O Farol” polarizando fãs ao seguir por um medo mais psicológico. É o cenário perfeito para o retorno de Ghostface e a metalinguagem que apenas “Pânico” pode nos proporcionar.

Quando Wes Craven faleceu em 2015, fãs se perguntaram se outro diretor conseguiria realizar um novo filme que ficasse à altura do mestre, que também nos trouxe “A Hora do Pesadelo”, e se não seria melhor deixar a franquia descansar. No entanto, o atual momento de Hollywood praticamente clamava por um novo filme, e essa missão ficou à cargo da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (ambos de Casamento Sangrento), enquanto o roteiro ficou nas mãos de James Vanderbilt (O Espetacular Homem-Aranha) e Guy Busick (Castle Rock). É palpável que tanto os diretores, quantos os roteiristas, possuem um carinho gigantesco e muito respeito pela franquia, e acima de tudo, queriam honrar o trabalho de Craven, e de Kevin Williamson (The Vampire Diaries), roteirista de três dos quatro filmes anteriores, que retorna como produtor-executivo.
Esse novo filme não apenas honra o legado do filme original, mas também suas sequências. Seja por falas, piadas, referências, e pequenos easter eggs que os fãs mais atentos certamente não vão deixar passar. Mas o filme não vive apenas de fan-service, e definitivamente possui a história mais forte desde o primeiro, inova na medida certa, analisa com precisão o atual momento que Hollywood vive, não deixando amadas franquias como “Jurassic Park” e “Star Wars” de fora dessa análise, além de explorar muito bem como alguns fãs podem ser tóxicos, principalmente na internet. A história faz sentido para os fãs que conhecem essa mitologia de traz para frente, mas também para o espectador mais desavisado. O mistério sobre o novo assassino é coerente, divertido, faz a platéia questionar tudo e a todos. Enquanto o vilão Ghostface retorna em sua melhor forma possível, mais sádico, sangrento, e brutal do que nunca.

O elenco é deslumbrante! Os retornos de Sidney Prescott (Neve Campbell), Gale Weathers (Courteney Cox) e Dewey Riley (David Arquette) acontecem de forma natural e certamente irá encher o coração dos fãs mais antigos de nostalgia. O trio está em sua melhor forma e entregam atuações fortes, dinâmicas e mais que emocionantes. O elenco de novatos também foi escalado com muito critério, onde todos entendem a responsabilidade que é estar em um universo admirado por tantos. E o destaque certamente fica com Melissa Barrera (Em um Bairro de Nova York), Jenna Ortega (You), Jack Quaid (The Boys) e Jasmin Savoy Brown (Yellowjackets). Outro grande destaque é Roger L. Jackson que retorna como a voz do vilão e transcende do charme ao pavor em segundos, com uma classe que torna impossível fechar os ouvidos, mesmo com medo.
A trilha de Brian Tyler (Velozes e Furiosos 9) é boa, reconfortante, intensa e eficiente em cenas de perseguição ou até em jump scares. Mas é impossível não comparar o trabalho de Tyler com Marco Beltrami que compôs as trilhas dos filmes anteriores de maneira mais que primorosa. Algumas faixas de Beltrami são revisitadas e atualizadas para criar o clima certo de terror e emoção, e quando combinadas com as novas composições rendem ótimos momentos em tela.

A fotografia é bela, e aproveita o melhor de suas locações. A antiga casa de Stu Macher, vista no primeiro filme, é recriada com precisão nos mínimos detalhes. No entanto, a cidade de Wilmington, na Carolina do Norte, pouco lembra as cidades que serviram de locação para a fictícia Woodsboro nos filmes anteriores, e apesar dos anos, pode criar uma certa estranheza entre o público, mas nada que atrapalhe o desenrolar da história.
No geral, esse novo filme da franquia Pânico atualiza as regras, reapresenta esse universo para uma nova geração, une novos personagens com os clássicos, e tudo isso feito com o maior respeito pelo trabalho original, e ainda inovando e entregando tudo aquilo que os fãs mais queriam ver, com a combinação perfeita de suspense, risadas e emoção. Tudo que fez essa franquia ser tão revolucionária e amada.