Desde a estreia, The Last of Us nunca teve medo de colocar o emocional à frente da ação, e a segunda temporada, lançada em abril, leva essa proposta ao extremo. Em uma adaptação ousada e altamente polarizadora do segundo jogo da franquia, a série da HBO expande suas ambições narrativas ao retratar o ciclo de ódio, perdas irreparáveis e os limites morais da vingança. Nem todos irão gostar do que verão — e essa é justamente a força da temporada.
A dor como estrutura narrativa de The Last of Us
A temporada se inicia em um ponto de alta tensão: Joel (Pedro Pascal) é brutalmente assassinado por Abby (Kaitlyn Dever), evento que desencadeia o arco de vingança de Ellie (Bella Ramsey). Ao longo de sete episódios, acompanhamos a espiral emocional da protagonista, que se torna cada vez mais violenta, impulsiva e atormentada. O roteiro, assinado por Craig Mazin e Neil Druckmann, faz escolhas corajosas ao diluir a empatia que o público sentia por Ellie na primeira temporada.
Ao mesmo tempo, o roteiro propõe um paralelo moral desconfortável. Ao alternar entre os pontos de vista de Ellie e Abby, a série obriga o espectador a questionar sua lealdade emocional. A virada ocorre no episódio 6, quando conhecemos a vida de Abby com a W.L.F. e sua relação com Lev, que humaniza ainda mais a personagem, transformando-a, para alguns, na nova protagonista.
Bella Ramsey e Kaitlyn Dever: um duelo de atuação
Se a primeira temporada foi dominada por Pedro Pascal, a segunda pertence inteiramente a Bella Ramsey e Kaitlyn Dever. Ramsey entrega uma Ellie mais crua, destruída emocionalmente, e sua transformação é palpável em cada cena — principalmente na sequência silenciosa do episódio, onde Ellie se depara com as consequências de suas ações. Dever, por sua vez, evita tornar Abby uma vilã unidimensional e encontra nuances raras: vulnerabilidade, força e até ternura.

Ambas as atrizes sustentam a tensão da narrativa com atuações intensas, que merecem destaque nas próximas premiações televisivas. São performances que vivem nos silêncios, nos olhares e nos momentos em que a violência fala mais alto que qualquer diálogo.
Um final corajoso e necessário
O episódio final, “Convergência”, não entrega catarse — entrega ruptura. Ao seguir o jogo e encerrar a temporada com a morte de Jesse, o confronto entre Ellie e Abby e um cliffhanger que literalmente escurece a tela após um disparo, a série deixa o espectador no limbo. Não há respostas fáceis, nem mesmo fechamento emocional.

É uma escolha que vai dividir o público. E é esse desconforto que garante a longevidade da discussão. The Last of Us não quer ser confortável. Quer ser verdadeiro.
Técnica a serviço da emoção em The Last of Us
A direção mantém o alto padrão da primeira temporada, com episódios dirigidos por Jasmila Žbanić e Peter Hoar que se destacam especialmente. A fotografia em tons frios, as paisagens destruídas de Seattle e a trilha sonora minimalista de Gustavo Santaolalla ajudam a construir uma atmosfera de peso — um mundo onde a esperança é um luxo perigoso.

Nos resta o quê?
A segunda temporada de The Last of Us é um triunfo narrativo, ainda que imperfeito. Ao adaptar o material original com ousadia e consciência emocional, a série se recusa a agradar o espectador. Prefere desafiá-lo. Não é entretenimento fácil. É arte televisiva em sua forma mais dolorosa — e mais honesta.
A segunda temporada de The Last of Us é um retrato sombrio e emocionalmente brutal das consequências da vingança. Com atuações marcantes de Bella Ramsey e Kaitlyn Dever, a série expande o universo da franquia com ousadia narrativa, embora divida opiniões com um final corajoso e nada conciliador.Crítica da 2ª temporada de The Last of Us