Foto: Divulgação/Disney
CRÍTICA REALIZADA POR: PRISCILA RAMOS AGRA MOREIRA
Não é de hoje que os estúdios Disney apostam em releituras de live-action para seus clássicos animados. Seguindo a mesma linha de Alice no País das Maravilhas, Malévola e o mais recente A Bela e a Fera, O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos chega aos cinemas como um conto de fadas reinventado com maestria, cuja fórmula de protagonismo feminino com personagens (vilãs ou heroínas) que resolvem seus próprios problemas continua bem trabalhado.
Originalmente um conto de fadas infantil, o livro de E. T. A. Hoffmann “O Quebra Nozes e o Rei dos Camundongos” (1816), conta a história da menina Marie Stahlbaum, que no Natal ganha de seu padrinho Drosselmeier um boneco quebra-nozes que ganha vida e a leva por aventuras em um reino encantado, tendo como vilão o dito Rei dos Camundongos. Na realidade, o próprio boneco tratava-se de um príncipe enfeitiçado e preso nesta forma pela mãe do antagonista em questão. Tchaikovsky baseou-se na história para compor seu balé, O Quebra-Nozes, apresentado pela primeira vez em 1892, que é conhecido desde então como uma das mais clássicas histórias natalinas.
O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos baseia-se tanto no livro como no balé, mesclando elementos das duas versões, mas curiosamente é melhor apresentá-lo como uma continuação do enredo original. No filme, temos Clara Stahlbaum (Mackenzie Foy), que no Natal ganha um presente deixado por sua mãe Marie (Anna Madeley), porém impossível de ser aberto sem a chave apropriada, que por sua vez está perdida nos Quatro Reinos. Clara em busca da chave, encontra-se nesse reino mágico, conhecendo lugares e figuras que sua mãe já descobrira. Dos quatro reinos, três (reino dos flocos de neve, das flores e dos doces) se relacionam de forma harmoniosa, enquanto o quarto reino comandado pela Mãe Ginger (Hellen Mirren) e seu exército de ratos encontra-se destruído e em guerra com os outros três.
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Não há dúvidas de que um dos triunfos do filme é justamente a reimaginação da história. Apesar do roteiro ser totalmente pertinente e criativo, a ponto de encantar a quem já conhece a história e quem a descobre pela primeira vez, o problema em si é a execução desse enredo que não alcança todo seu potencial nas mãos dos diretores Lasse Hallström (Querido John) e Joe Johnston (Capitão América: O Primeiro Vingador). O filme conta com dois diretores porque, em necessidade de refilmagem de certas cenas, Hallström foi substituído por Johnston, e o resultado foi catastrófico: além de uma narrativa apressada, o filme não encontra um ritmo para desenvolver os acontecimentos e nem o manejo correto para despertar reações nos espectadores. Todas as chances de provocar surpresa, risadas, medo ou aflição mantém-se no raso, comprometendo até as reviravoltas da trama, que poderiam ser mais impactantes se abordadas de outra maneira. A sensação que fica é de uma narrativa encurtada e pouco explorada, que não arranca mais que um sorriso amarelo.
Por sua vez, o sentimento mais presente é o de encantamento, graças ao primoroso trabalho de direção de arte, o filme é uma verdadeira ostentação visual no que diz respeito aos cenários, cores, e em identidade artística, apesar da montagem quase comprometer o maravilhoso trabalho do cinematografista Linus Sandgren (La La Land), com closes faciais insistentes mesmo quando não há necessidade, como a memorável cena de balé: belíssima, mas cheia de interrupções para garantir mais takes com rostos dos atores.
O filme ganha mais presença com a trilha sonora que refere-se constantemente a um espetáculo de balé de fato, e também graças às atuações. Mackenzie Foy é quem tem mais oportunidade de explorar sua personagem, e garante uma profundidade emocional digna de atenção.
Foto: Divulgação/Disney
Entretanto, devido o ritmo do filme, os outros atores não têm a mesma chance de trabalharem seus personagens tão intensamente. A incrível Hellen Mirren dá o tom de mistério do filme, no papel da exilada Mãe Ginger, não surpreende mas faz o que sabe de melhor com a competência de sempre. Keira Knightley rouba a cena e entrega um trabalho muito diferente do que está acostumada a fazer, os exageros da sua Sugar Plum não são apenas no figurino como nos trejeitos e na voz, cativa e irrita através de um segmento que liberta sua audácia cômica.
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De forma geral, O Quebra Nozes e os Quatro Reinos entrega toda a magia que promete mas causa uma sensação de estranheza por tudo que ainda poderia/deveria fazer. Emociona e encanta, mas preserva clichês sem surpreender. Pode não ter o reconhecimento dentre os trabalhos mais consagrados da Disney, mas será lembrado com uma adaptação louvável da clássica história natalina.
