Lançado pela Netflix, O Tempo Que Nos Resta é um drama filipino dirigido por Adolfo Alix Jr. que transforma o tema da vida eterna em uma reflexão sobre culpa, perda e passagem do tempo. A trama parte de um romance improvável entre Matias, um homem imortal, e Lilia, uma mulher mortal, para discutir até onde o amor pode resistir quando o tempo deixa de existir.
O diretor usa a estética fria, a fotografia noturna e a lentidão narrativa para criar uma atmosfera de suspensão — como se o próprio filme vivesse fora do tempo. É um estudo sobre o que significa permanecer, quando tudo ao redor muda.
O desfecho: quando o fim é uma escolha
Na trama, Lilia é atacada durante uma invasão em casa e acaba gravemente ferida. Matias reage de forma violenta, repetindo um padrão que o acompanha por séculos: destruir aquilo que tenta proteger. Ao perceber que está morrendo, Lilia recusa a oferta do imortal de torná-la eterna. Essa recusa é o ponto central do filme, sendo esse um gesto de lucidez e resistência. Ela entende que a vida ganha sentido justamente porque termina.

No amanhecer seguinte, Matias decide caminhar em direção ao sol, sabendo que a luz o destruirá. É um suicídio simbólico, que encerra o ciclo de culpa e imortalidade. O colar deixado para trás torna-se o último vestígio físico de sua existência, um sinal de que até o que parece eterno precisa de um fim para ser lembrado.
A recusa da imortalidade como libertação
Ao contrário do que se espera de um romance sobrenatural, O Tempo Que Nos Resta não celebra o amor eterno. Ele o questiona. No longa, a imortalidade é tratada como uma forma de aprisionamento, algo como um castigo emocional que impede o fechamento dos ciclos humanos. Lilia, ao escolher a morte, redefine o sentido da eternidade: o tempo não é algo a ser prolongado, mas vivido de forma plena enquanto existe.
Essa visão contrasta com a de Matias, que passa a entender a mortalidade como a única forma de redenção possível. Seu fim, portanto, não é trágico, mas coerente. Ele finalmente se liberta da repetição e aceita o que o tempo sempre negou: o direito de terminar.
O que fica depois do fim
O último ato do filme insere um novo olhar. A enfermeira Isabela, que acompanha Lilia no hospital, aparece com um passaporte nas mãos — um detalhe breve, mas significativo. Ela decide partir, talvez para recomeçar a vida. É uma metáfora clara: mesmo diante da morte, a vida continua em outras pessoas, em outras histórias.
O tempo que resta, no fim das contas, é o que escolhemos transformar em movimento. A morte de Lilia inspira o renascimento de outra personagem, encerrando o ciclo com sutileza e propósito.
Um encerramento fiel à proposta
O final de O Tempo Que Nos Resta não busca comover, mas sim convida o público para uma reflexão. É uma conclusão coerente com a ideia que o filme constrói desde o início: a eternidade é inútil sem propósito, e o amor só tem valor quando há limite. A Netflix entrega um drama que foge da previsibilidade e usa o sobrenatural como espelho da condição humana. Mais do que uma história de amor, é um lembrete sobre a necessidade de aceitar o tempo — e o que ele leva — como parte do que nos torna vivos.
- Para não perder nenhuma análise e novidade sobre as produções da Netflix, siga o Séries em Cena no Instagram e acompanhe tudo o que chega ao streaming.