A Netflix estreou na última sexta-feira (7) o filme Frankenstein, dirigido por Guillermo del Toro, e o novo longa altera de forma decisiva o final do romance de Mary Shelley. A escolha, que já movimenta debates entre críticos e leitores, não é apenas uma licença criativa: é uma declaração sobre o olhar do diretor para a humanidade por trás do horror.
No livro, Victor Frankenstein morre perseguido por culpa e obsessão, enquanto a criatura promete pôr fim à própria existência — um encerramento amargo, dominado pelo desespero. No filme, del Toro inverte a lógica. Em vez de destruição, há encontro. Em vez de punição, há perdão. Criador e criação se reconhecem em um último momento de empatia, e a tragédia cede espaço à redenção.
A visão de Guillermo del Toro
O diretor afirmou em entrevistas que Frankenstein sempre foi, para ele, “a biografia das famílias quebradas”. Essa leitura molda todo o terceiro ato do filme. Victor, interpretado por Oscar Isaac, deixa de ser o cientista movido pela soberba e se torna um homem incapaz de lidar com a própria dor. Já a criatura, vivida por Jacob Elordi, encarna o filho rejeitado em busca de afeto — uma figura que reflete a culpa e a fragilidade do pai que a criou.

A decisão de mudar o final reforça essa camada emocional. Del Toro transforma o mito de Shelley em uma parábola sobre reconciliação, mostrando que o verdadeiro horror não está na criação de um monstro, mas na incapacidade humana de perdoar. É uma leitura coerente com sua filmografia, marcada pela empatia por seres marginalizados, como visto em A Forma da Água e O Labirinto do Fauno.
Da tragédia à redenção
Críticos internacionais destacaram que a nova versão amplia o alcance do texto original. Ao substituir o pessimismo pelo afeto, del Toro preserva o espírito de Shelley e o adapta ao presente. O medo do século XIX era o da ciência sem limites; o de hoje é o da solidão e da desconexão emocional. Frankenstein ressurge, então, como uma história sobre aceitação, algo como reconhecer o outro, mesmo que ele carregue nossas falhas.
Essa escolha faz do filme mais do que uma releitura literária: é uma obra sobre o perdão como forma de humanidade. Ao final, a criatura permanece viva não para aterrorizar, mas para lembrar que a salvação, às vezes, nasce do que o mundo insiste em chamar de monstruoso.
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