Lançado pela Netflix nesta semana, o filme indonésio O Elixir conseguiu atraiu a atenção do público. Dirigido por Kimo Stamboel, o longa combina drama familiar e horror sobrenatural para discutir os limites da ambição humana. Com atmosfera densa, o título se destaca entre os lançamentos do streaming por transformar a medicina tradicional e o sonho da juventude eterna em um verdadeiro apocalipse zumbi.

Mais do que um festival de sustos, O Elixir propõe uma reflexão simbólica sobre vaidade, culpa e as consequências de manipular o que não se entende.

O remédio que virou maldição

Na história, o patriarca Sadimin cria um elixir experimental com o objetivo de rejuvenescer e salvar os negócios da família, especializados em ervas medicinais. O que começa como promessa de prosperidade logo se transforma em tragédia: o experimento sai do controle e dá origem a uma infecção que transforma pessoas em criaturas violentas.

Imagem do filme O Elixir
Cena do filme O Elixir, lançado pela Netflix (foto: Reprodução/Netflix)

Conforme o caos se espalha, a casa que antes simbolizava tradição se torna palco de paranoia e culpa. A transformação de Sadimin é tanto física quanto moral — ele encarna a própria corrupção gerada por sua ambição. A infecção passa a representar não apenas um vírus, mas a doença do ego e da ganância.

Quando o sacrifício é a única salvação

Nos minutos finais, a narrativa assume tom desesperador. O filho Bambang se sacrifica em uma explosão para conter os mortos-vivos, enquanto Kenes, mordida durante o confronto, escolhe morrer antes de se transformar. A decisão reforça um dos temas centrais do longa: o limite entre humanidade e monstros.

A última cena mostra Karina e o pequeno Raihan fugindo da vila devastada. Há, por um instante, a ilusão de esperança. Mas a cena pós-créditos destrói qualquer conforto: um investidor de Jacarta consome o elixir e exibe sinais de rejuvenescimento, indicando que o apocalipse está apenas começando.

Ambição, culpa e o colapso do humano

O final de O Elixir é um retrato simbólico da autodestruição humana. O que deveria curar passa a consumir. Stamboel transforma a tradição medicinal em metáfora da corrupção moderna, onde o desejo de eternidade se sobrepõe à empatia.

Imagem do filme O Elixir
Cena do filme O Elixir, lançado pela Netflix (foto: Reprodução/Netflix)

A fotografia fria e o uso do som — com ruídos secos e respirações abafadas — intensificam a ideia de claustrofobia moral. O contraste entre a natureza tropical e a decadência dos corpos reforça a ironia do título: o “elixir” da vida torna-se o veneno da alma.

O legado de um terror moral

Com pouco mais de 1h56 min, O Elixir mostra que o terror asiático continua encontrando maneiras de questionar a humanidade por meio do medo. Assim como em Satan’s Slaves e A Noite nos Persegue, Kimo Stamboel entrega um horror que ultrapassa o susto: ele fala sobre culpa, ambição e o preço da juventude eterna.

No fim, o verdadeiro monstro não é o zumbi, mas sim o ser humano incapaz de aceitar o próprio tempo.

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Estudante de jornalismo apaixonado por séries, sempre em busca da próxima maratona. Atualmente, estagiário no Séries em Cena, onde exploro o universo das produções e compartilho meu olhar crítico sobre o que está em alta no mundo das telinhas. E-mail: lucas.emanuel@seriesemcena.com.br