O desfecho de Depois da Caçada, novo drama de Luca Guadagnino disponível no Prime Video, confirma a linha que o filme constrói desde a primeira cena. A produção estrelada por Julia Roberts aborda uma denúncia dentro de uma universidade de elite e transforma a investigação dos fatos em um estudo sobre poder e narrativa. Quando chega ao final, o longa abandona qualquer expectativa de resposta definitiva e aposta na ambiguidade como elemento central da experiência.
O salto temporal revela o impacto silencioso da crise
A história avança cinco anos e apresenta Alma Imhoff em um novo posto dentro da universidade. O cargo de decana, que poderia sugerir uma vitória, aparece como um espaço burocrático e distante da ambição intelectual que movia a personagem. Guadagnino usa esse ambiente frio para indicar que o avanço não é exatamente uma conquista, mas um modo de permanecer dentro de uma estrutura que continua frágil.

Essa transição simboliza como a crise vivida no campus não foi resolvida. Ela apenas foi absorvida pela instituição, que reorganiza seus quadros sem enfrentar de fato a raiz do conflito. A ascensão de Alma se transforma em sinal de desgaste emocional, não de superação.
O reencontro entre Alma e Maggie mantém a ferida aberta
O encontro das duas em um diner durante uma tempestade de neve reforça o tom emocional do filme. Maggie responde com cordialidade, mas a menção ao artigo escrito por Alma expõe a tensão que ainda existe entre elas. Nada no diálogo sugere reconciliação. O silêncio, a postura e a hesitação mostram que a crise nunca foi encerrada.
Guadagnino usa a cena para simbolizar a dificuldade de reparar relações afetadas por acusações dessa natureza. Não há alívio ou entendimento. Há apenas a constatação de que algumas quebras são irreversíveis.
O destino de Hank destaca a assimetria do poder
Hank Gibson surge trabalhando na política, em posição confortável e sem consequências institucionais concretas. O filme não confirma culpa ou inocência do personagem, mas deixa evidente que figuras com maior capital social e profissional tendem com mais facilidade a emergir de crises que derrubariam outros indivíduos.

Ao apresentar esse caminho, o diretor responde a uma dúvida constante do público. O que aconteceu com Hank depois da denúncia? A resposta é desconfortável. A estrutura que o cercava continuou funcionando para ele, independentemente da verdade dos fatos.
O corte final revela a proposta do diretor
A quebra da quarta parede no último instante é a assinatura mais clara da intenção de Guadagnino. Quando a câmera expõe a equipe de filmagem e o comando de “corte” interrompe a narrativa, o diretor destaca o caráter construído de toda história. É um lembrete de que versões dos fatos são moldadas por quem controla o enquadramento.
O gesto final transforma o público em participante da disputa por narrativa. Assim como dentro da universidade retratada no filme, a verdade não é apresentada como um fato absoluto, mas como construção sujeita a interesses e perspectivas.
O que o final de Depois da Caçada realmente significa
O filme encerra sua trajetória sem oferecer respostas, porque sua preocupação nunca foi revelar o que aconteceu na noite da acusação. O objetivo é discutir como instituições lidam com crises sensíveis e mostrar como carreiras, reputações e laços pessoais se reorganizam depois de um conflito que não pode ser completamente esclarecido.
A ambiguidade deixa de ser um recurso narrativo e se torna comentário sobre a própria lógica universitária. O que permanece não é a certeza, mas a força das estruturas que decidem o que é dito, o que é esquecido e o que se transforma em verdade.
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