Já estamos acostumados com cinebiografias. O que é um pouco incomum é termos uma com a celebridade viva, mas felizmente com o Elton John foi assim. O longa propôs a contar a história do astro com transferência, sem firulas. A história, que já começa a ser contada em uma fase que o Elton está vulnerável por opção do roteirista Lee Hall, foi pensada para criar uma curiosidade a mais na trama e fazendo com que o espectador crie empatia e expectativa nos minutos inicias.
A trama começa contando a infância tímida de Reginald Dwight, um garotinho envergonhado com um talento nato: o piano. Com o incentivo primordial de sua avó, Reginald ingressou na Royal Academy of Music, aguçando ainda mais o seu amor por música e o transformando em uma profissão. Após conhecer Bernie Tapin (Jamie Bell), a sua carreira entrou em ascensão com essa parceira poderosa que abriu muitas portas para os dois.
A transição do Reginald Dwight no astro Elton John é evidente. Reggie era tímido, usava roupas neutras e era tanto quanto acanhado com outras pessoas – devido à relação estranha com o seu pai – após ele se descobrir como cantor e pianista, começa a usar roupas extravagantes para suprir a sua timidez e dar espaço a uma nova personalidade, e sem constrangimento, Elton se mostra autoconfiante no palco. O grande destaque do longa foi para o Costume Design Julian Day, ele teve todo o cuidado para criar aos modelos iguais aos que o cantor usava nos palcos, criando uma certa nostalgia para as pessoas que conhecem o estilo ousado do cantor e encantamento para os que estão conhecendo agora o estilo do Sir. Elton John.
O longa não esconde que é um musical. A música é feita para conversar e dar continuidade a narrativa, o que é curioso e inovador, pois outras cinebiografias são mostradas a parte técnica da composição ou até só nas partes marcantes, mas nesse caso, esse conceito é desconstruído. A música é exercida para os personagens expressarem as suas emoções e para dar continuidade e clímax na trama, não só em Elton, mas também em Bernie que em“Goodbye Yellow Brick Road” retrata o afastamento dos amigos e falta de harmonia e ideias distintas. Em “Honky Cat”, dá ênfase no namoro com o empresário Richard Madden (John Reid), em“Rocketman” emociona pois é a hora de um encontro inusitado e necessário para a continuidade da vida de Elton em momentos triunfais e em “Tiny Dancer” e “Saturday’s Night Alright” que começa a mostrar Elton se despedindo de Reggie. Sem esses números musicais o filmes perderia a sua essência, pois é isso que dá uma personalidade para aquela história.
Em nenhum momento o longa esconde os problemas de John com drogas, álcool, abuso em compras e sexo. É transparente, tratado de forma humana, pois ele não teve medo de arriscar em um lado sombrio, mostrando que todos somos pessoas com problemas, vícios e que temos nossas recaídas e tirando aquela imagem de artistas sem defeitos que vemos tanto por ai. O mesmo funciona para a sexualidade que é não maquiada, é mostrada com sutileza e verdadeiramente sem tabus. Há uma cena de sexo gay e a representação de uma orgia, o que não pesa ou deixa o filme superficial e sim tratado como sutileza junto com uma pequena obscuridade, e isso é importante pois dá fundamento, credibilidade e uma grande personalidade na história.
Desde começo somos apresentados a situações estranhas com a mãe (Bryce Dallas Howard) e uma relação totalmente conturbada e sem afetividade com o pai (Steven Mackintosh), ao longo da trama vemos que isso tem um peso grande em seu comportamento extravagante e o excesso de vícios, mas também são primordiais para a evolução do personagem, assim como seu empresário, que explorava da carreira de Elton, pois não era uma relação saudável, mas que sem ela, ele não seria esse homem que é hoje em dia. O longa dá uma boa construção do perdão e de como precisamos dele para seguir em frente com nossas vidas.
Taron Ergeton brilha no papel, parece que o ator nasceu para ser o Sir. Elton John nas telonas, ele é voraz na atuação, Reginald começa tímido e depois vemos com Eregton flutua, se dedica a pegar os trejeitos do astro, se tornando uma pessoa única com figurinos e óculos, além de ser um excelente ator que interpretou uma pessoa viva com muita experiências e maestria, além de se dedicar para se adequar ao estilo único e peculiar do Elton, o ator se comprometeu a cantar todas as músicas, largando qualquer tipo de dublagem com a voz do cantor e dando ainda mais personalidade para o personagem o deixando ainda mais rico e único.
Rocketman é um musical épico que honra a carreira do Elton John e retrata a verdadeira essência do cantor sem firulas ou mentiras, é corajoso em mostrar os altos e baixos. Existem muitos adjetivos para essa longa, como mágico, musical, astroso, divertido e excêntrico. Vale ressaltar que é uma cinebiografia que honra a trajetória do astro, pois pela sua autenticidade e honestidade que passa para o público que está assistindo. Foi uma grata surpresa em 2019, é uma obra emocionante de assistir.