O cinema é repleto e formado por estórias, invenções, a imaginação vai além através das telas, os roteiristas podem dar a sua versão da história ou interpreta-la do que quiser. Ele sempre nos deu essa grande possibilidade. Assim nasceu Era Uma Vez em Hollywood, o nono filme do aclamado Quentin Tarantino, o diretor já é conhecido pelo seu jeito original e peculiar, mas nesse seu novo longa é diferente de tudo que ele já fez, claro que contém alguns aspectos que são particulares do diretor.
No novo longa, conta a história de Rick Dalton, um ator famoso por suas participações na tv e está em plena decadência nos anos 60, ele tem seu parceiro que vai bem além de um dublê, Cliff Both é o seu parceiro, motorista, praticamente um guarda costas e já nos adiantando aqui, Leonardo DiCaprio e Brad Pitt faz uma dupla de respeito, o bromance dos dois está algo fora do comum, a parceira casou perfeitamente bem.
Tarantino faz a sua visão dos anos 60, a trilha sonora, a estética, a homenagem ao cinema daquela época. O filme é um show de volta ao tempo, parece que estamos vivendo naquele tempo. Quando saímos da sala é um verdadeiro de volta para o futuro, pois é tudo tão bem retratado que a gente que não viveu naquela época parece que estamos vivendo lá.
Em quase três horas de filme somos levados a um grande conto, um longa cheio de camadas, histórias que é até difícil de digerir tudo em primeiro momento pela sua profundidade. Algumas coisas são necessárias antes de imergir nessa experiência cinematográfica, para quem não conhece a história verdadeira da época pode chegar a ser confuso e não fazer sentido algum, mas para quem tem pelo menos o mínimo de conhecimento na verdadeira história famosa conhecida pelo caso Tate-LaBianca, é uma grande descoberta e um novo mundo.
Sharon Tate, interpretada pela divina Margot Robbie, é representada pela inocência do cinema, a cena que fala isso é quando ela está na sala de cinema com seus pés levantados vendo seu próprio filme, ela não tem malícia e aprecia aquilo como todo o seu amor. Tate é o charme, tem orgulho de fazer parte de uma indústria tão importante. A personagem representa o mais puro que o cinema podia oferecer aquela época. Poderia ter sido mais explorada, porém parece que foi uma escolha pensada desse tempo de tela dela, é a representação da mulher naquela época.
Rick Dalton representa o cinema com problemas, aquela pessoa que precisa marcar o nome de outras mais não consegue, ele tenta de tudo para ser o melhor, mas parece que algo o impede, como o seu alcoolismo. Seu personagem é consistente e tem cenas maravilhosas, como a parte que ele contracena com uma criança e ela tem mais propriedade de dar conselhos a ele. Mesmo que o seu personagem não existe na vida real, ele é a mera representação do ator daquela época. Existe um crescimento constante a Dalton ao desenrolar do longa.
Cliff Both é bruto, ele representa aquele cara que não conseguiu a ascensão e virou um quebra galho. O cara que vive em um trailer com um cachorro sem nenhuma pretensão na vida. Óbvio que Tarantino não ia deixar barato e sensualiza o personagem – mas quem não quer ver o Brad Pitt sem camisa consertando uma antena em cima do telhado –. Ele não parece importante para a trama, mas ao decorrer da narrativa vemos que é o elemento chave para acontecimentos totalmente subjetivos.
O bromance que DiCaprio e Pitt fizeram casou muito bem. Pois em momento inicial achamos que Both é apenas um dublê de Dalton, porém vai muito além disso, Both dirige pra ele, conserta coisas de sua casa e quebra um galho em todos os sentidos. A amizade é um ponto chave do longa, ela nos transporta para um mundo paralelo, até chega parece que o bromance foi real.
A maneira que é construído a seita de Charles Manson é um ponto chave da narrativa, ela anda diretamente com o filme e conversa com o expectador de maneira mais lúdica possível. Não vivemos aquela época, mas a bizarrice que aquela parte é tratada, é verdadeira e soa estranha para quem não conhece a história. Mas é feita com cuidado e estranheza. Os atores desse núcleo estão sensacionais, são conviventes, tem nomes como Margaret Qualley (The Leftovers), Lena Dunham (Girls), Sydney Sweeney (Euphoria), Maya Hawke (Stranger Things), Austin Butler (As Crônicas de Shannara). São atores da TV que são conhecidos pelos seus trabalhos em séries da TV e certeza que a escolha deles não foi atoa.
A trama tem a ideia de trabalhar com duas narrativas – ou mais – diferentes em um filme só, apenas no final que as duas coisas se encontram e conversa com algo que não assistimos nunca. Mesmo que já no começo temos uma ligação direta, pelo fato que Sharon Tate foi morar com o grande diretor da época, o Roman Polanski ao lado da casa de Rick Dalton, começa a conexão daí, mas não tem um contato direto. É claro que tudo isso foi feito propositalmente, essa era a ideia do longa.
A última meia hora, brinca com outros filmes de Tarantino, mas sem perder a autenticidade, aqui é completamente diferente de tudo que já vimos do diretor. O horror cômico trabalhado é de uma forma que alguns diretores invejam e tentam fazer constantemente. A cena é um primor.
Em tempos de fake news, tempos que não sabemos o que é real ou fantasia, o longa chega para mostrar um novo jeito de contar histórias e não aquela coisa engomada de mostrar uma história real ao pé da letra.
Nessa nova fábula, somos transportados para uma Hollywood que não conhecemos, com costumes e hábitos diferentes dos de hoje. É uma declaração de amor ao cinema, um grande tributo a aquela época que foi tão importante para termos produções que temos hoje, é um grandioso espetáculo. O que Tarantino mostra é que as vezes é melhor viver na fantasia, pois a realidade é muito cruel.
Era Uma Vez…Em Hollywood estreia nos cinemas brasileiros dia 15 de agosto pela Sony Pictures.