Desventuras em Série fez parte da infância de muita gente, seja por conta do seus 13 livros ou por conta do filme estrelado pelo comediante Jim Carrey (como Count Olaf), que apesar de ter sido elogiado pela critica e adorado por muitos não teve continuação. A série chegou já com um grande desafio em suas mãos, o de conseguir superar e levar a diante o legado da saga literária.
Ter o próprio escritor dos livros, Daniel Handler, como o produtor executivo da série da Netflix é definitivamente o que fez essa série ser um primor de adaptação e também o que cruzou uma linha de diferenças entre o que havia sido adaptado no filme de 2004. Enquanto em algumas partes do programa os fãs dos livros ficam felizes por verem quase que literalmente o que foi escrito na tela, o autor sabe o que não funcionaria no formato da televisão.
Como Count Olaf foi escolhido o ator Neil Patrick Harris (de How I Met Your Mother), que faz um excelente trabalho na construção de seu personagem. Apesar das inevitáveis comparações com Jim Carrey, Harris trouxe uma abordagem diferente para o vilão que aqui apesar de ainda ser cômico como no filme, você consegue acreditar mais que aquela pessoa é realmente malvada. Isso fica claro ainda no primeiro episódio da primeira temporada, quando o Olaf surpreende a todos (ou quase todos) ao bater em Klaus Baudelaire.
Diferente do filme onde o foco está sempre no vilão, aqui na série de TV os Órfãos Baudelaire estão a frente da trama como deveriam. Todas as três crianças estão ótimas aqui; Malina Weissman (Violet Baudelaire), Louis Hynes (Klaus Baudelaire) e até a bebezinha Presley Smith (Sunny Baudelaire), que rouba a cena em vários momentos. Ao mesmo tempo que acompanhar as Desventuras em Série desses órfãos seja um prazer, é difícil não dizer que é visível na cara dessas crianças o cansaço e o desespero a cada episódio e isso meu amigo, se chama boa atuação. Malina e Louis tem um futuro brilhante nas telas de TV/Cinema.
E apesar de ser uma série muito boa, Desventuras em Série tem os seus defeitos. Essa é uma série que tem como material fonte livros que por melhores que sejam, são extremamente repetitivos e isso fica MUITO evidente quando se está assistindo a série pois como é costume com os programas da Netflix, assim que disponível, as pessoas tendem a ver tudo em maratona. E a sensação de você estar vendo uma coisa repetitiva está sempre ali, presente em todas as três temporadas. Então se você ainda não começou a série, ou ainda não viu tudo eu não recomendaria você ver em maratona, vá com calma e assim sua experiencia pode acabar sendo muito melhor.
Se assim como eu, antes de ver a série você já tinha visto o filme, boa parte da primeira temporada vai ser muito familiar para você, mas a partir do episódio The Miserable Mill as coisas começam a ficar interessantes, e são levadas a segunda temporada onde a trama sobre a organização secreta V.F.D. (ou C.S.C. na versão Brasileira) começa a ser melhor explorada, e os mistérios da saga começam a aparecer aos montes. O que é a V.F.D.? O que tem de tão importante no Açucareiro? Os pais dos Baudelaire estão mesmo vivos? E muitas outras perguntas.
E você precisa estar ciente de que apesar de dar mais respostas do que os livros, nem todos os mistérios serão respondidos e alguns dos que foram podem acabar sendo decepcionantes. E eu estou bem com isso, só não consegui decidir ainda se considero isso um dos charmes ou um dos defeitos da produção.
E falando em charme, isso é algo que não falta na produção de Desventuras em Série. Tecnicamente, apesar de ter um orçamento de televisão e efeitos visuais visíveis a série tem uma estética linda e que permite várias brincadeiras. É interessante notar que é impossível dizer em que período histórico essa série se situa pois ao mesmo tempo que tudo tende a ter uma aparência mais vintage, piadas com coisas modernas são vistas aqui com naturalidade, vide a piada envolvendo a Uber na primeira temporada.
Desventuras em Série não é pra todo mundo, tudo aqui é muito fantástico e exagerado, quase todos os adultos nessa série são completos idiotas e a inabilidade deles de ouvir o que as crianças estão falando e ver o que está bem a sua frente incomoda, e isso é excelente. A forma como a produção conseguiu fazer uma série infantil ser amada por tantos adultos é louvável, todas as brincadeiras com o narrador e as quebras da quarta parede são inteligentíssimas e as piadas internas que nos acompanharam durante 3 temporadas são inesquecíveis, figurativamente! Ou seria, literalmente? Se você gosta deste tipo de narrativa então essa é a série perfeita para você, a adaptação de Desventuras em Série da Netflix é um título imperdível.