Sendo uma entusiasta de live-actions (desde que eles preservem a história central e os personagens de maior importância), estava muito animada para Dumbo, principalmente pela direção de Tim Burton e o elenco estrelado, que pareciam ótimos para expandir a história da animação de apenas 60 minutos. No final, minha família se divertiu e eu me senti um tanto quanto decepcionada.
Dumbo era uma grande oportunidade para a Disney dar liberdade ao diretor neste tipo de filme, já que o original foi lançado em 1941 e proporcionalmente não marcou tantas pessoas como Aladdin e Rei Leão, produções do estúdio que terão novas versões no cinema em 2019 e que espera-se que sejam sucessos de público. Pelo bilheteria abaixo do esperado no primeiro final de semana nos Estados Unidos (menor entre os últimos live-actions do estúdio), Dumbo parece certificar a Disney de que ser muito fiel ao material original é uma aposta melhor.
Pelo começo do filme, percebe-se que as crianças, que juntamente com Dumbo deveriam ser os mais carismáticos e foco da trama, não seriam capazes de sustentar a doçura necessária para substituir o ratinho do original. Nico Parker (Milly Farrier) é inexpressiva na maior parte do filme e parece apenas estar reproduzindo o script. Finley Hobbins (Joe Farrier) é apagado mais do que o necessário para alavancar a genialidade da irmã que acaba sendo resolvida de maneira rasa.
No elenco adulto, Danny DeVito (Max Medici) se sai bem como dono do circo, e poderia ter uma transição no final melhor explorada, mas no geral conseguiu ser mais do que um alívio cômico. Michael Keaton (Vandemere) e Eva Green (Colette) dão fôlego ao filme em seu segundo ato, mas assim como Colin Farrell (Holt Farrier), o mais mal aproveitado pelo filme, são prejudicados pelo roteiro pouco ousado e previsível. Talvez se o foco fosse apenas no personagem de Farrell, sem as crianças, amadurecendo sua relação com o elefantinho, o filme seria mais consistente e as tramas secundárias mais comoventes, já que a relação parental se perde no meio da história.
O roteiro, aliás, é o que mais decepciona. As resoluções dos conflitos não parecem plausíveis, mesmo para um filme que gira em torno de um elefantinho voador. E ele, que deveria ser o ponto central da história, é colocado apenas para fazer a trama secundária dos personagens humanos andar. Isso pode funcionar com as crianças, porém para os adultos que assistem à película, é fácil achar que os roteiristas optaram por resoluções preguiçosas e cartunescas e que dificilmente aconteceriam na vida real, como o surto repentino de Vandemere, que claramente só pioraria sua situação.
É estranho que a Disney tenha escalado um diretor tão conhecido e reconhecido pelas especialidades de suas produções como Tim Burton e tenha deixado-o com uma liberdade criativa limitada e é inevitável que o espectador se pergunte onde está a marca do diretor. Deixar que ele criasse sua própria versão ao viés de tentar trazer realismo a um dos filmes mais subjetivos do estúdio e adaptar as cenas mais memoráveis parece uma opção que seria melhor aproveitada.
O fato do filme apresentar tantos personagens também atrapalha seu andamento. A trama central, que deveria ser a família Farrier, perde força logo após o primeiro voo de Dumbo, e o personagem de Colin Farrell acabou sendo engolido pelo adição de personagens. O mesmo acontece com a trupe do circo Medici, que só volta a ter tempo de tela no final do longa.
Dumbo tem seus tem méritos, principalmente na direção de arte e na trilha sonora. A recriação do modesto circo Irmãos Medici é bem feita e crível assim como a Dreamland (uma clara referência aos parques da Disney), apesar de em alguns momentos a quantidade de cenários em computação gráfica ser exagerada. A música consegue salvar as cenas em que a narrativa fica muito arrastada ou em que o foco é retirado de Dumbo. A questão de não usar os animais no circo parecia ser a principal mensagem que o filme queria passar enquanto os trailers eram liberados, mas no corte final a discussão ficou meio apagada, apenas com o personagem de Danny DeVito fazendo menção a isso no primeiro epílogo. Porém, é inegável que as cenas de violência contra a mãe de Dumbo e a separação dos dois comove o público.
Um dos pontos mais interessantes é o fato de o personagem de Michael Keaton ser claramente um Walt Disney ao extremo no que diz respeito a se fazer de tudo para levar e popularizar o entretenimento entre as pessoas. Agora, se isso passou despercebido pela equipe é difícil saber. A cena em que aparecem “Dumbos” de pelúcia nas prateleiras para serem vendidos remonta claramente à ambição das corporações em cima de suas propriedades.
Sendo um filme Disney, a produção de cenários e figurinos é impecável e realmente choca o espectador como era de se esperar. O CGI para fazer Dumbo é tão bem utilizado que parece ser real sua presença entre o núcleo humano. Mas neste caso, isso não foi suficiente para uma boa experiência, já que o roteiro monótono e confuso acabou desfocando o personagem central da história e entregando pouco desenvolvimento das tramas secundárias.
Entretanto, Dumbo cumpre a proposta de entreter a família e oferecer uma história aconchegante para o público. Os pequenos certamente não serão críticos ao roteiro, principalmente pelo fato da maioria não fazer comparação ao clássico tão amado por Walt Disney. Porém, é decepcionante que uma produção com o grande orçamento de US$ 170 milhões – próximo ao gasto com A Bela e a Fera e Mogli, que tiveram melhor recepção tanto da crítica como do público – e um bom diretor peque tanto em passar a magia do clássico que, apesar de apresentar problemas históricos que não caberiam no live-action e ser bem mais modesto, consegue passar uma experiência muito mais emocionante para o espectador.
Ainda que a direção entregue um lindo filme e preste uma homenagem digna ao original, infelizmente o live-action de Dumbo é um filme esquecível.
Título original: Dumbo
Sinopse: Holt Farrier (Colin Farrell) é uma ex-estrela de circo que retorna da guerra e encontra seu mundo virado de cabeça para baixo. O circo em que trabalhava está passando por grandes dificuldades, e ele fica encarregado de cuidar de um elefante recém-nascido, cujas orelhas gigantes fazem dele motivo de piada. No entanto, os filhos de Holt descobrem que o pequeno elefante é capaz de uma façanha enorme.
Nacionalidades: estados unidos
Gêneros: Família, Fantasia
Ano de produção: 2019
Estreia: 28 de Março de 2019 ( Brasil )
Direção: Tim Burton
Roteiro: Ehren Kruger. Baseado no livro escrito por Harold Pearl e Helen Aberson
Produção: Tim Burton, Katterli Frauenfelder, Derek Frey, Nigel Gostelow, Ehren Kruger, Justin Springer
Trilha Sonora: Danny Elfman
Direção de fotografia: Ben Davis
Edição: Chris Lebenzon
Design de produção: Rick Heinrichs
Direção de arte: Andrew Bennett, Dean Clegg, Gregory Fangeaux, Mark Harris, Chris Lowe, Oli van der Vijver, Loic Zimmermann
Decoração de set: John Bush, Cosmo Sarson
Figurino: Colleen Atwood
Estúdios: Walt Disney Pictures, Tim Burton Productions, Infinite Detective
Distribuição: Walt Disney Studios
TRAILER FINAL