Em visita ao estúdio da série Quarry, a HBO entrevistou a atriz Jodi Balfour, intérprete de Joni e o diretor da série, Greg Yaitanes.
O Séries em Cena divulga as entrevistas com exclusividade, confira:
Jodi Balfour contou um pouco sobre sua personagem e a preparação para a série.
Bem como um drama criminal, a série é um retrato de uma mulher em um casamento complicado. O que chamou sua atenção nesse papel?
Muita coisa. Eu fiquei impressionada com a riqueza da história, e me apaixonei pela profundidade das camadas que os autores exploraram na Joni. Você é apresentado a ela em um momento em que ela está completamente apaixonada pelo marido, mas ela também tem um segredo, e que ponto de partida maravilhoso para se conhecer essa mulher.
Você fez alguma pesquisa sobre o período e pelo o quê as esposas dos veteranos passaram?
Sim. Graham Gordy e Michael Fuller, os autores, me enviaram livros que eram grande fonte de pesquisa – diversos livros de não-ficção sobre o Vietnã e o como era ser esposa de um veterano -, bem como documentários sobre o que estava acontecendo em Memphis nos anos de 1970, porque era um berço da música da contracultura.
Nos anos 1970, houve também a revolução sexual e a mudança no equilíbrio dos gêneros – isso reflete no seu retrato de Joni?
Com certeza. Nós não discutimos abertamente sobre isso, mas aquilo fez parte de seu tempo enquanto Mac estava fora no Vietnã, porque, enquanto ele não estava ela foi apresentada à literatura feminista pela primeira vez, para a música que estava rompendo as barreiras sociais, e ela começou a fumar maconha e sair para clubes em Memphis e foi realmente bem-recebida nessa comunidade da contracultura.
E junto a isso estava acontecendo a revolução sexual. Michael e Graham me entregaram uma pilha de revistas Cosmopolitan dos anos 1970 e, entre elas, havia uma com o título na capa dizendo algo como: “Por que sempre pensamos que precisamos de apenas um homem?”. E, é claro, tinha o trabalho que Betty Friedan estava fazendo e os livros de Simone de Beauvoir tinham sido lançados há um tempo, e aquele tipo de coisas, de repente, estava aparecendo na órbita de Joni. Ao mesmo tempo em que essa não era a única justificativa para ter um affair – era muito mais complicado do que aquilo -, tudo estava interligado também.
Alguma coisa sobre os paralelos entre os anos 1970 e agora te impactou, no que diz respeito a relações raciais e outros problemas sociais?
Sim, em um grau quase alarmante. Acho que será muito interessante para o público, porque, fascinante e tristemente, hoje existem muitos características do que aconteceu nos anos 60 e 70 em relação à necessidade da evolução social de gênero e igualdade racial. Nós também avançamos um pouco sobre as questões LGBT.
É um papel que também exige muito do físico – você tem uma luta inacreditável com o personagem Suggs. Quantas cenas de ação você mesma fez?
Muitas. Tivemos muitos ensaios e a colaboração entre Kurt Yeager, que interpreta Suggs, e eu, assim como Richard Burden – o coordenador dessas cenas – também particiou muito. Passamos muito tempo descobrindo o que ficaria melhor e depois ensaiamos até ficarmos confortáveis com os movimentos, até que no dia deixamos tudo fluir, sem pensar no próximo passo.
Mas, droga, nada te prepara para ser uma dublê por um dia. A maior parte sou eu, acredite ou não. Aquela sequência toda da luta é o que chamam de “actor action”, e é por isso que o diretor Greg Yaitanes também é conhecido – acho que fizeram muito na série Banshee.
Agora, depois de ter feito, acho que seria difícil não fazer, quando possível, minhas próprias cenas. Porque tem um ponto tão importante. Não é real, claro, mas seu corpo passa por esses movimentos e reflete no resto do processo. Eu fiquei um pouco amassada – em alguns takes nós simplesmente batíamos as cabeças -, mas nada drástico.
Você gostou dos figurinos dos anos 1970?
Sim, aquilo era divertido. Quando filmamos a série, toda aquela coisa dos anos 1970 também estava nas passarelas e bem reconhecida como o novo-velho item. O que facilitou a vida da figurinista, Patia Prouty. De modo geral, as roupas são originais – vintage atual dos anos 1970 – mas por causa dessas tendências que se infiltraram na High Street, ela podia ir ao Urban Outfitters e H&M e encontrar algumas coisas que também funcionariam muito bem.
Patia tem um olho incrível e ela eu eu estávamos sempre conversando sobre o que combinaria com Joni e em quais momentos – ela é tão colaborativa. E tinha tanta peça que eu queria roubar!
O diretor Greg Yaitanes falou sobre os desafios da série e muito mais.
Qual foi o apelo/propósito deste projeto?
Para mim, o que mais me chamou a atenção foi a oportunidade de fazer uma trama sobre um assassino em torno da desconstrução de um casamento e explorar o impacto de manter um segredo e uma vida dupla.
Essa é uma série que vive em seus relacionamentos, então, espero que as pessoas assistam e se identifiquem com os dilemas dos personagens. Apesar de muitos de nós não sabermos o que é voltar de uma guerra, nós conseguimos imaginar como é ser deixado de lado e não ter opções e, em seguida, fazer escolhas que podem estar em contradição com as coisas que sabemos que são certas.
Quais foram os desafios de fazer uma série ambientada na década de 70?
Você não pode simplesmente entrar em um lugar e fazê-lo estar ambientado em 1972 – existem tantas histórias e detalhes para prestar atenção, um movimento errado e você afasta as pessoas.
E a questão é que você não está fazendo um programa sobre 1972 – você está fazendo sobre o final da década de 1960, porque levou um tempo para as tendências e a cultura percorrerem o país na era analógica. Eu sou da Costa Leste e nós ouvíamos falar das ideias da Califórnia, como sushi nos anos 1980, mas o lugar só iria abrir dois anos depois – levou um tempo. Então, era de fato sobre tentar identificar precisamente onde nós estávamos e, ao mesmo tempo, deixar tudo isso invisível para que pudéssemos focar nos personagens e história.
Este período foi um prisma por meio do qual podemos examinar o estado atual das relações raciais e políticas de gênero nos Estados Unidos?
Quarry faz enormes paralelos com a atualidade e fomos reconhecendo isso enquanto estávamos trabalhando essa temporada. Eu não quero que o público fique estagnado nessas questões. Eu quero que as pessoas escapem para dentro da série e não se sintam como: “Eu já tive bastante deste tipo de notícias hoje”. Mas, é interessante ver que alguns dilemas, como a eleição, a guerra polarizada, a frequência do racismo – tudo isso não tem, infelizmente, mudado muito.
Quando Max Allan Collins escreveu Quarry na década de 1970, foi a primeira vez que um assassino tinha sido o personagem central em uma série como esta. Como foi que os enredos do mesmo gênero evoluíram desde então, e o que você espera adicionar a ele?
Os enredos com assassino tinham acabado de se tornar populares e fáceis de fazer para o público, e eu acho que esse foi realmente o falecimento deste gênero para mim. Então, nós queremos levá-lo de volta a uma era onde as coisas são merecidas, desorganizadas e não vão bem. E isso está acontecendo por causa de circunstâncias impossíveis. Por isso que nós lutamos para manter cenas como a do Mac não conseguir o emprego como o treinador de natação para o público ver que todas os caminhos haviam sido esgotados e não há nada sexy sobre se tornar um assassino. A abordagem não poderia ser legal ou glorificada, você tinha que se sentir como se começasse a trazer à luz os cantos mais escuros de um crime, você não sabe o que pode acontecer.
Você acha que estamos vivendo um momento em que temos mais programas de TV sobre períodos socialmente significativos ou turbulentos da história recente – como por exemplo “Confirmação’ e “Todo O Caminho” da HBO, ou “American Crime Story: The People v O.J. Simpson”?
Eu acho que há uma reflexão acontecendo, um desejo de visualizar pontos na história que nós realmente não tínhamos visto na TV antes. E eu acho que nós temos uma distância suficiente de certas coisas para sermos capazes de voltar e examiná-las, não pensando apenas no ‘aqui e agora’. Eu amo que temos a oportunidade assistir séries de época que tem verdadeiros insights sobre essas eras. Nós só estamos tentando levar as pessoas a um mundo diferente – em Quarry, nós estamos levando-os para a década de 70 no sul dos Estados Unidos, onde você nunca seria convidado para conhecer (a não ser como uma audiência de TV). Então esse é o objetivo.
Quarry
Criada por Michael D. Fuller e Graham Gordy, a trama gira em torno do fuzileiro naval norte-americano Mac Conway, conhecido como Quarry, que está tentando se readaptar à vida em sociedade depois de combater na Guerra do Vietnã.
Em 1972, quando o militar da Marinha Mac Conway retorna do Vietnã para sua casa em Memphis, ele enfrenta a frieza das pessoas que ama e a condenação do povo pelo qual lutou. Ainda lidando com o pesadelo das situações que vivenciou, Conway é involuntariamente arrastado para uma enorme rede secreta de assassinatos cometidos ao longo do rio Mississippi.
Jodi Balfour faz o papel de Joni, esposa de Conway e repórter de um jornal local, que reestruturou sua vida durante a ausência do marido, embora continue ligada a ele.
No Brasil, a série passa todas as segundas, às 21 horas, pelo canal MAX PRIME e também está disponível na plataforma HBO GO.